O que fazer quando morre alguém muito próximo da criança?
A morte é a única certeza que temos na vida. Em algum momento, teremos que enfrentá-la e nossos pequenos não serão poupados. Outro dia assisti o filme Corajosos e fiquei bastante impressionada com a fala de um dos protagonistas: “Aprender a viver sem um ente querido é como aprender a viver com a amputação”. Perder alguém que amamos é realmente um sofrimento imensurável e pode acontecer a qualquer momento com qualquer um de nós. Por isso, é necessário refletir se estamos, de fato, educando nossos filhos para vencer os desafios da vida, nesse caso, lidar com a morte.
Mesmo tendo a certeza que o fim de cada ser vivo é morrer, costumamos evitar falar sobre esse assunto, principalmente com as crianças. Transformar a morte em tabu, em assunto proibido, não vai ajudar a lidar com a perda de um ente querido. O mais sensato é tratar a morte como algo natural da vida. E como fazer isso?
Em sala de aula, tive alunos que perderam entes queridos. E acredite, não é uma situação fácil! Nesses momentos é preciso reconhecer que a dor da criança é real e ela precisa de amparo e compreensão. As crianças sofrem e cada uma, dependendo da idade e do jeito de ser, demonstra sua dor de uma maneira. A criança muito pequena, por exemplo, não vai entender a permanência da morte e vai esperar que o ente querido volte a qualquer momento. Já a criança maior vai conseguir chegar à conclusão que um dia a morte chegará para cada um. Cabe a nós, adultos, adotar atitudes que irão ajudá-las a lidar melhor com esses sentimentos. Afinal, é natural sofrer pela perda de alguém amado, o importante é não deixar que essa dor se transforme em algo que vai fazer mal à saúde dos pequenos.
Então, como agir para que a criança saiba lidar com a perda de um ente querido e saia mais fortalecida emocionalmente dessa experiência?
Uma atitude que você pode adotar, agora, é incluir na biblioteca do seu filho histórias que tratam da morte de forma criativa, como, por exemplo, o clássico A Formiguinha e a Neve, A avó adormecida do italiano Roberto Parmeggiani, A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens de Rubem Alves e Menina Lili de Ziraldo. Não espere acontecer o falecimento de alguém próximo para fazer isso. É muito importante que a criança tenha contato com esse assunto e uma boa maneira de fazer isso é pelas histórias.
Caso a perda, de fato, aconteça com alguém muito ligado ao seu filho, você poderá adotar algumas atitudes que permitirão a ele passar por esse sofrimento e pelo luto com mais conforto e sem traumas. Lembre-se que o adulto tem estratégias e amigos para passar por essa dor, mas a criança tem apenas os adultos para ajudá-la a passar por esse processo. Então, fique atenta, mãe! Seu filho pode apresentar mais irritabilidade, inapetência, tristeza e esses comportamentos pedem mais sua atenção. É hora de agir!
NO DIA DO VELÓRIO:
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Leve seu filho ao velório, se ele desejar. Levar flores para colocar no caixão pode ser uma boa forma de despedida.
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Deixe que assine no livro de presenças.
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Não esconda sua tristeza do seu filho. Se ele perguntar o motivo do seu choro, explique que você está triste pois sentirá saudades da pessoa que morreu, já que ela não vai voltar mais.
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Conte a verdade sobre a causa da morte, por exemplo, que estava doente, um acidente ou porque estava velhinho. Não dê detalhes, principalmente se a morte for trágica, com sofrimento.
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Responda às perguntas do seu filho de maneira objetiva, por exemplo, se ele perguntar: “A gente também vai morrer?” Você poderá responder que sim, mas quando estiverem bem velhinhos.
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Abraçar e beijar o falecido só deve acontecer se a criança quiser e se já tinha esse costume antes do falecimento.
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Se a criança pedir pode deixá-la ver o rosto do falecido.
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A morte é um fenômeno difícil de explicar, mas se a criança fizer perguntas sobre isso, responda de acordo com suas crenças.
COM O PASSAR DOS DIAS:
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Se seu filho é uma criança muito ativa, leve-o para brincar mais vezes ao ar livre.
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Se seu filho é mais quieto, fique mais tempo a sós com ele.
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Procure manter a rotina.
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Deixe seu filho falar, chorar, rir e brincar. Seja acolhedora! É importante que seu pequeno perceba que ele tem alguém para confortá-lo.
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Vocês poderão construir juntos uma “Caixa de Memórias” ou um “Livro de Memórias” e guardar fotos e lembranças da pessoa que morreu.
Essas são atitudes concretas que ajudarão seu pequeno a aceitar a ausência do ente que se foi, sem criar fantasias sobre a morte. O importante é que você fique atenta ao comportamento do seu filho e respeite seu modo de lidar com a dor da perda. E lembre-se, não o obrigue a fazer nada que ele não queira.